O Fator Peso nos Esportes Hípicos
Por Carlos da Rocha Torres

FOTO: JULIANA RIBAS / AMIGOS DO HIPISMO - CURITIBA PR
Houve um tempo (década de 70) em que o peso mínimo para as provas de Salto de obstáculos e do Concurso Completo de Equitação
era de 75 kg. O ginete, mais sua sela e manta, ao subir na balança, deveria atingir o peso mínimo, e, em último caso, poderia
acrescentar o peso da cabeçada ao peso total. Se o peso de 75 kg não fosse alcançado, o ginete estava eliminado da
competição.
Os cavaleiros ou amazonas que não atingissem o peso mínimo nas condições explicitadas acima eram obrigados a colocar chumbo
nas mantas das selas para atingirem os 75 kg regulamentares. Existia uma manta de feltro especial, com quatro bolsas de couro
para a colocação do chumbo, que já era derretido exatamente no formato destas bolsas.
Mais tarde, o regulamento foi modificado pela FEI, e o peso mínimo abolido, passando a ser livre. Em meu entendimento, tal
modificação propicia uma vantagem extremamente significativa aos cavaleiros e amazonas mais leves em relação aos mais pesados.
Observem bem a foto acima: ela agrupa a campeã, a vice-campeã e o 3º colocado do Global Champion Tour, disputado no dia 18 de
outubro de 2008, dentro da excepcional programação do Athina Onassis International Horse Show, realizado na Sociedade Hípica
Paulista.
Quem acompanha, mesmo de longe, as corridas de cavalos, sabe que o peso atribuído a cada animal é o meio prático de tentar
equilibrar a força dos diversos animais que disputam um mesmo páreo. Um aprendiz de terceira categoria (iniciante) pode abater
03 kg do peso atribuído ao cavalo no programa da corrida. Vemos assim, de forma clara, a importância do fator peso nas
corridas de cavalos. Para os demais esportes hípicos, o raciocínio não deveria ser diferente.
O Box é ranqueado pelo peso dos lutadores; nunca houve um jóquei de 70 kg; o patrão ou timoneiro de um barco é sempre um
indivíduo extremamente leve. São exemplos corriqueiros da influência do fator peso em diferentes esportes.
No salto e no CCE o equilíbrio do fator peso não existe mais. Observem, na feliz foto que encabeça o artigo, a diferença de
peso entre os concorrentes. Vamos supor que Beerbaum pese 90 kg. As duas amazonas, Jéssica Kuerten e Meredith Beerbaum, muito
provavelmente, não atingirão sequer 60 kg de peso. Tal constatação significa que o cavalo de Beerbaum salta com uma sobrecarga
mínima de 30 kg em relação aos cavalos das duas amazonas, todos realizando um percurso absolutamente igual. Como o nível
técnico entre os ginetes é semelhante (concordo plenamente que Ludger Beerbaum é superior a ambas as amazonas), não há como
deixar de ver a incrível vantagem obtida pelas amazonas em relação a Ludger Beerbaum.
Se no salto tal vantagem é significativa, no Concurso Completo de Equitação ela é absurdamente maior. Vejam o quadro que
encerra o artigo e imaginem o que significa fazer o cross e a prova de salto do CCE com uma diferença de 30 kg de peso entre
os concorrentes. Menos mal que, a partir de 2004, foram retiradas da prova de fundo do CCE as fases A e C (ESTRADAS E
CAMINHOS), totalizando aproximadamente 20 km, e a fase B (STEEPLE CHASE), com cerca de 3300 m e velocidade de 690 m/m.
Não há como deixar de sentir a enorme vantagem, auferida pelo ginete mais leve, entre concorrentes que disputam a mesma prova,
com uma diferença de peso entre eles de 30 kg ou mais sobre o dorso do cavalo.
A alegação de que a força do indivíduo mais pesado é maior em relação ao mais leve compensaria tal diferença de peso é
absurdamente enganosa. Não resta a mínima dúvida de que é a técnica, e não a força física, o fundamento principal e
insubstituível para o êxito em qualquer atividade hípica. Caso tenham alguma dúvida coloquem o Maguila para disputar uma prova
de salto ou CCE.
Não estou fazendo campanha contra as mulheres, estou apenas destacando a excepcional vantagem que um ginete muito mais leve
(homem ou mulher) leva em relação ao mais pesado. Não esqueçam que o hipismo é o único esporte em que homens e mulheres
competem em absoluta igualdade de condições. Seria muito interessante que, nas ordens de entrada do Salto e CCE, inserissem
uma coluna com o peso do ginete.
Percebam a diferença abissal que existe para um cavalo galopar em um cross de 6800m, com o salto de cerca de 30 obstáculos, e
no dia seguinte enfrentar uma prova de salto exigente, com mais ou com menos 30 kg sobre o seu dorso.
Não sei os motivos que levaram a FEI a acabar com o peso mínimo nas competições de hipismo. Agradeceria ser informado, se
alguém souber.
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