A Teoria e a Prática

Por Carlos da Rocha Torres


Embora a equitação seja uma atividade essencialmente prática não devemos esquecer que sua base teórica é fundamental para a execução correta do que se quer fazer na prática. Além disso, o conhecimento teórico ocasiona um ganho de tempo extremamente significativo, uma vez que as tentativas empíricas para realizar qualquer exercício ou trabalho hípico serão substituídas pelos conhecimentos já consolidados ao longo de vários e vários anos de comprovação, alguns até já fazendo parte de livros, da documentação acessada, atualmente, pela Internet, vídeos, CDs, etc.. Existem alguns poucos cavaleiros privilegiados que, embora desconheçam a teoria da equitação, possuem um dom, um sentimento, um feeling que facilita enormemente a pratica equestre. São verdadeiros artistas. A maior dificuldade de tais privilegiados consiste em passar aos seus alunos, cavaleiros normais, e sem o auxílio da teoria, tudo aquilo que o artista faz por instinto. As perguntas abaixo são absolutamente teóricas. Reparem quanta coisa de teoria utilizamos na parte prática da equitação.


1. Um ferrador, após ferrar um cavalo, perguntou ao seu dono que tipo de trabalho ele fazia com o animal, uma vez que o lateral esquerdo do cavalo estava com os ferros muito mais desgastados que o lateral direito. Tente explicar o fato.

A situação mais nítida em que o lateral esquerdo fica sobrecarregado em relação ao seu oposto é a REALIZAÇÃO DO TROTE ELEVADO NA DIAGONAL DIREITA: quando o cavaleiro SENTA NA SELA PÕE A MAIOR PARTE DE SEU PESO SOBRE O POSTERIOR ESQUERDO, e quando SE LEVANTA DA SELA COLOCA A MAIOR PARTE DE SEU PESO SOBRE O ANTERIOR ESQUERDO.

2. O cavalo Rajá sofreu um corte profundo no posterior direito, que paralisou o trabalho do animal durante 06 meses. Quais os trabalhos montados que você pode executar para recuperar, no mais curto prazo, a ação plena do posterior direito do Rajá?

TROTE ELEVADO NA DIAGONAL ESQUERDA e principalmente o GALOPE NO PÉ ESQUERDO, em cujo 1º tempo apenas o posterior direito está apoiado no solo, suportando todo o peso do cavalo. O GALOPE FALSO NO PÉ ESQUERDO SOBRECARREGA AINDA MAIS O POSTERIOR DIREITO.

3. Uma amazona fez um estágio na Alemanha e voltou espalhando aos quatro ventos que lá quase tudo se resolve com a RÉDEA DE FORA E A PERNA DE DENTRO. Você concorda ou discorda do fato enunciado? Justifique.

O objetivo da equitação é fazer o peso do cavalo refluir para o post mão, e as espáduas ficarem leves. Como toda rédea interna (direta) coloca o cavalo sobre as espáduas, somente a rédea de fora (contrária) atende ao objetivo citado. Quando se faz uma volta para a direita a perna esquerda, de fora, apenas impede a fuga da garupa para fora; é a perna de posição, cabendo assim à perna direita (interna) toda a responsabilidade pelo papel fundamental de impulsionar o cavalo; é a perna da impulsão.

4. No que diz respeito à distribuição do peso do cavalo qual a diferença entre o modo de atuação de uma rédea direta e uma rédea contrária? Justifique.

A rédea direta é a rédea ativa usada para fazer a pirueta inversa (giro sobre os anteriores). logo o peso do cavalo estará sobre as espáduas. A rédea contrária é a rédea ativa usada para fazer a pirueta direta (giro sobre os posteriores), logo o peso do cavalo estará sobre a garupa.

5. Qual o motivo do trabalho em duas pistas (flexionamento lateral) ser facilitado ao trote e ao galope?

Tanto no trote como no galope existe um tempo de suspensão, onde os quatro membros flutuam no ar, que facilita extremamente o exercício. Faça uma analogia com o futebol: quando é mais fácil deslocar o corpo do goleiro? Quando ele está com os dois pés no chão ou quando está no ar?

6. Um juiz de adestramento anotou na reprise de um concorrente que seu cavalo estava galopando a 4 tempos. O que caracteriza o galope a 4 tempos?

O POUSAR NO SOLO DEFASADO DA DIAGONAL ASSOCIADA QUE OCORRE NO 2º TEMPO DO GALOPE. Se o cavalo precipita o pousar do anterior ele está sobre si de frente. Precipitando o pousar do posterior ele está sobre si de trás.

7. Quais as duas causas mais freqüentes do cavalo galopar a 4 tempos?

Sobre si de frente: excesso de velocidade, muito comum no cavalo de corrida.
Sobre si de trás: excesso de reunião, muito comum no cavalo de adestramento.

8. Um cavaleiro de salto, após um salto incorreto de seu cavalo, fez um alto violento e fez o cavalo recuar do seguinte modo: "Serrando" com as rédeas, fazendo o cavalo levantar a cabeça e arrastar os posteriores. Como se pede o recuar para o cavalo?

O cavalo executa o alto. Quando o cavaleiro agir com a perna o cavalo vai alongar o pescoço e vai interrogar a mão do cavaleiro.
-Se a mão do cavaleiro ceder, ou o cotovelo avançar, ele vai romper para frente.
- Se a perna impulsionar e a mão não deixar que o cavalo ande para frente, ele vai avançar os posteriores e parar engajado.
- Se a ação das pernas for um pouco mais forte e a mão não deixar o cavalo avançar ele vai apoiar na embocadura e recuar, sem que a rédea seja puxada para trás, sem que ele levante a cabeça ou arraste os posteriores.

9. Quais os motivos da base do trabalho de equoterapia ser a andadura passo?

Na andadura passo o cavalo apóia no solo 03 bases diferenciadas: LATERAIS (2 VEZES), DIAGONAIS (2 VEZES) E TRIPEDAIS (4 VEZES). Quando ele apóia uma base DIAGONAL A ALTURA DA GARUPA É MÁXIMA E A INFLEXÃO DA COLUNA É MÍNIMA. Quando ele apóia uma BASE LATERAL A ALTURA DA GARUPA É MÍNIMA E A INFLEXÃO DA COLUNA É MÁXIMA. Devido a tal mecanismo da andadura passo, quem está montado é ELEVADO, AFUNDADO, GIRA O CORPO PARA A DIREITA, GIRA O CORPO PARA A ESQUERDA, É JOGADO PARA FRENTE QUANDO O ANIMAL ABAIXA O PESCOÇO E PARA TRÁS QUANDO O PESCOÇO É ELEVADO. Tal movimentação é muito semelhante ao andar do homem. Ao trote ou ao galope, tal variedade de movimentos, encadeados sucessivamente, e sempre na mesma seqüência, jamais seria obtida.

10. Qual a diferença entre mudança de pé simples e mudança de pé no ar?

Na mudança de pé simples, o cavalo vem galopando em um pé de galope, toma o passo (3 a 5 tempos) e parte ao galope no outro pé. Na mudança de pé no ar, o cavalo vem galopando em um pé de galope e muda automaticamente para o outro pé sem tomar o passo ou o trote.

11. Qual a única oportunidade em que o cavalo pode realizar uma mudança de pé no ar?

O cavalo só pode executar uma mudança de pé no ar no tempo de suspensão, imediatamente após o 3º tempo do galope, quando o animal pousa o anterior interno no solo. Tanto no trote como no galope existe um tempo de suspensão, onde os quatro membros flutuam no ar.

12. O que é uma andadura fixada?
Qual a andadura fixada que você conhece?
Qual o oposto da andadura fixada?

ANDADURA FIXADA é aquela em que pescoço do cavalo não oscila em relação ao plano vertical. O trote é uma andadura fixada e o oposto de andadura fixada é a ANDADURA BASCULADA, como o passo, que tem pequena báscula e o galope, que tem grande báscula.

13. De uma maneira geral que tipo de flexionamento dá mais força e agilidade aos posteriores do cavalo?

O flexionamento lateral, ou o trabalho em duas pistas.

14. Existe alguma semelhança entre o recuar e o trote? Qual?

Sim, ambos são realizados POR BASES DIAGONAIS.

15. Complete o quadro abaixo com as letras S (sim) e N (não)

Andadura Simétrica Fixada Saltada Basculada Assimétrica Rolada ou marchada
Passo S N N S N S
Trote S S S N N N
Galope N N S S S N

16. Que tipos de batida para o salto o cavalo pode executar? Quando devemos utilizar cada uma delas?

Batidas CURTAS, JUSTAS ou LONGAS.
As batidas CURTAS são utilizadas quando se quer dar um salto ganhando o mínimo de terreno, por exemplo, para fazer uma volta de 180º para saltar o próximo obstáculo, ou para saltar um duplo com 7,00 m de vão.
As batidas JUSTAS são as batidas padrão, e que atendem bem a todas às variantes do percurso.
As batidas LONGAS são utilizadas quando se quer diminuir o tempo do percurso, como, por exemplo, em um desempate. Quem saltar uma linha de 21 m em 4 lances, o fará em muito menos tempo do que quem der 5 lances na referida linha.

17. Qual o motivo de um cavalo que contorne o 1º elemento de um duplo salto tenha tendência de dar mais um lance dentro do duplo?

Em quase todos os obstáculos, excetuados tríplices, quádruplas e assemelhados, a DISTÂNCIA DO LOCAL DA BATIDA PARA O SALTO ATÉ O OBSTÁCULO É IGUAL A DISTÂNCIA DO OBSTÁCULO ATÉ O LOCAL DA RECEPÇÃO. Tal constatação acarreta o seguinte:
- Se o cavalo sair de muito longe, a distância entre os obstáculos ficará encurtada, e será preciso dar lances menores dentro do duplo.
- Se o cavalo executar a batida justa, a distância entre os obstáculos ficará normal, e o cavalo dará lances normais dentro do duplo.
- Se o cavalo executar a batida curta, a distância entre os obstáculos ficará aumentada, e o cavalo será obrigado a dar lances maiores dentro do duplo. Quando o cavalo não possui a condição de ampliar seus lances dentro do duplo, por insuficiência física ou técnica, fica caracterizada a maior tendência do cavalo a dar mais um lance no duplo ou linha.

18. Qual a finalidade do salto nos cavaletes de trote?

Finalidade:
- Acalma o cavalo.
- Obriga-o a levantar as espáduas.
- Obriga-o a arredondar o salto e empregar o balanceiro cervical (bascular).
Desvantagens:
- Freia a impulsão e não ensina a calcular a batida para o salto.
Indicado para:
- Cavalos que disparam para a barreira
- Esmagam as espáduas.
- Saltam com o rim cavado.
- Não empregam o pescoço.
- Não defendem os posteriores.
- Saltam rasante.

19. Qual o grande inconveniente do salto ao trote?

O salto ao trote não ensina o cavalo A CALCULAR A BATIDA PARA O SALTO, condição indispensável para o bom cavalo de salto, já que não existe prova de salto ao trote.

20. Quanto à trajetória do salto qual a diferença entre o salto de uma estacionata, um óxer ou uma tríplice?

O salto de ÓXERS E ESTACIONATAS admite a batida curta, justa ou longa. O salto correto de uma TRÍPLICE OU QUÁDRUPLA deve ser executado com a batida curta. O salto de tais obstáculos (tríplice, quádrupla ou rio) assemelha-se, em muito, ao salto em distância, onde o saltador deve executar sua batida o mais próximo possível da fita de referência. Resumindo: É UM ERRO TÉCNICO SALTAR TRÍPLICES, QUÁDRUPLAS OU RIO SEM EXECUTAR A BATIDA CURTA.

21. Durante uma prova de salto um cavaleiro fez todas as voltas para a direita com o focinho do cavalo voltado para a esquerda. Qual a causa técnica da incorreção? Como podemos corrigi-la?

As curvas para o salto devem ser executadas sempre utilizando o 4º efeito de rédea (rédea contrária de oposição a frente do garrote). Quando se utiliza tal efeito a RÉDEA DE FORA É A RÉDEA ATIVA E COMANDA O MOVIMENTO. A RÉDEA DE DENTRO É CHAMADA DE REGULADORA OU LIMITADORA e é a sua ação que vai impedir que o cavalo faça a curva olhando para fora. No caso em tela a dosagem insuficiente da ação da rédea interna permitiu que o cavalo olhasse para fora. No adestramento a inflexão do focinho do cavalo nas curvas é chamada de "PLI" e deve sempre estar voltado para dentro da curva, exceto no galope falso ou contra galope quando o cavalo galopa pista a mão esquerda, galopando no pé direito e olhando para direita.

22. Diga como trabalha o balanceiro cervical (pescoço) do cavalo nas seguintes situações:
- na batida para o salto
- no planar
- na recepção

Na batida, abaixa para medir a distância do obstáculo. No planar, abaixa e bascula para liberar a passagem dos posteriores. Na recepção, levanta, para amortecer a recepção.

23. Qual a causa mais frequente das faltas feitas pelo cavalo com seus posteriores?

Normalmente o emprego insuficiente de o pescoço no planar ocasiona a falta com os posteriores.

24. Como se realiza o trabalho de domínio de obstáculo?

Executado ao galope, é indicado, especialmente, para animais que disparem ou arranquem para a barreira. O cavalo deve ser colocado no galope em círculo, em frente da barreira (obstáculo), de tal modo que a tangente ao círculo executado coincida com a linha do meio do obstáculo. Dar o número de voltas necessário até que o cavalo se acalme e não arranque mais para a barreira. Só abordar a barreira com o cavalo calmo. É um trabalho que exige habilidade, calma e paciência do cavaleiro, uma vez que só pode ser realizado montado.
Alternar mão direita e esquerda. Se o cavalo disparar após o salto, devemos retomá-lo e colocá-lo em círculo até que se reequilibre e acalme novamente. Não se deve confundir o trabalho de domínio com o trabalho de acertar o lance para o salto, mesmo que o lance esteja certo o cavalo só vai saltar se estiver calmo e equilibrado.

25. Como você vê a afirmação de que o salto de obstáculos verticais (estacionatas) seja facilitado se o cavaleiro abordar o obstáculo enviesado?

Quando formos saltar à mão direita, devemos direcionar o cavalo para a metade direita do obstáculo, de tal modo que, se a batida for muito curta, basta abrir para a esquerda e teremos uma batida justa. Se abrirmos mais ainda para a esquerda, teremos uma batida longa. O salto de verticais enviesados nos dá a possibilidade de modificarmos, sem esforço, a batida do cavalo, o que seria muito mais difícil se abordássemos a barreira perpendicularmente.

26. você já ouviu falar em BANQUETA BARRADA ? Como podemos usá-la?

É indicado, especialmente, para animais que tenham o gesto das espáduas deficiente. Pode ser executado montado ou à guia, ao trote ou ao galope. Obriga o cavalo a saltar alto 1,40 m ou mais sem sacrificar suas articulações, em decorrência da recepção ser extremamente atenuada em função da altura da banqueta (FIG 03).
É um trabalho muito eficiente, também, para animais que não empreguem o pescoço durante o salto, e, por causa disso, cometam falta com os posteriores (FIG 04).

27. Qual o nome do flexionamento que usamos para que o nosso cavalo consiga saltar com sucesso um duplo de óxers a 7,00 m, a 7,50 m ou 8,00 m? Em que consiste tal flexionamento?

FLEXIONAMENTO LONGITUDINAL, o famoso alargar e encurtar. Sua importância è primordial, tanto no adestramento clássico (transição de andaduras), como no salto de obstáculos. É o tipo de flexionamento que vai permitir ao cavalo vencer combinações de distâncias que exigirão um lance de galope maior ou um lance de galope menor. Em ambos os casos, principalmente nos encurtamentos, a transição deve ser suave, sem que o cavalo eleve a cabeça, se atravesse, perca a impulsão, ou que o ginete tenha de dar socos ou tirões na boca do cavalo. Para saltar um duplo de paralelas com 8,00 m de vão, o lance de galope, obrigatoriamente, tem de ser maior do que o lance de galope utilizado para saltar o mesmo duplo com 7,50 m ou 7,00 m de vão. A capacidade de encurtar ou ampliar o lance na mão do cavaleiro só é conseguida através do flexionamento longitudinal.

28. A expressão "APOIA MAIS FORTE" utilizada por diversos instrutores para o aluno saltar um obstáculo vertical significa o que? Qual seria a expressão correta?

APOIO é a tensão dada pelo cavalo às rédeas ajustadas pelo cavaleiro; é de total iniciativa do cavalo. Logo não se deve pedir ao cavaleiro para aumentar o apoio e sim AUMENTAR O CONTATO com a boca do cavalo.

29. Em que situação, excetuado o coice, um cavalo coloca os dois anteriores no solo e os posteriores no ar?

Somente no galope a 4 tempos sobre si de frente. È uma situação muito comum nos cavalos de corrida, qualquer que seja sua raça. Em tal tipo de cavalos, quanto mais avançado estiver o seu centro de gravidade, maior será sua velocidade, e maior será o peso sobre suas espáduas. Nos cavalos de adestramento ou salto, nosso objetivo visa exatamente o contrário: CENTRO DE GRAVIDADE SOBRE OS POSTERIORES E ESPÁDUAS ALIVIADAS.

30. Quais os tipos de exercícios que você pode realizar para que o seu cavalo adquira mais força e agilidade nos posteriores, bem como aumente sua reunião?

Tal flexionamento desenvolve a força e agilidade dos membros posteriores do caval, bem como sua reunião. É um complemento indispensável ao flexionamento longitudinal.
CEDER À PERNA: o cavalo não estará encurvado em torno da perna interna do cavaleiro. É um exercício preparatório para os movimentos mais exigentes, e visa, fundamentalmente, a flexibilidade e sensibilidade lateral do cavalo
ESPÁDUA PARA DENTRO
APOIAR
TRAVERS (APOIAR COM A CABEÇA AO MURO)
RENVERS (APOIAR COM A GARUPA AO MURO)




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