
Cap Torres com Havaiano, CHN Semana do Exército, 1978, pista do Reg. Andrade Neves
APRESENTAÇÃO:
Carlos da Rocha Torres é Coronel de Cavalaria Ref do Exército Brasileiro. Cursou a Escola de Equitação do Exército no ano de 1970,
obtendo o primeiro lugar. Foi, por duas vezes, instrutor da Seção de Equitação da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),
nos períodos de 1972-1974 e 1977-1979. Campeão Brasileiro Individual de CCE Senior em 1972, Tricampeão Brasileiro por Equipes
de CCE Senior (1971, 1972 e 1973), Campeão Brasileiro de Pólo (1973) e Campeão Gaúcho de Salto Master (1991). Foi, ainda,
fundador e primeiro presidente da Liga Hípica da Fronteira Oeste (1988).
Renomado instrutor, está radicado em Curitiba, PR, há mais de uma década.
Este artigo, que agora publicamos, foi escrito em 1998.
Percebe-se no texto, agradável e de fácil assimilação, a forte influência da doutrina francesa, adotada pela Escola de
Equitação do Exército, baseada, principalmente, nos brilhantes livros "Equitação Acadêmica", do Gen. Decarpentry, e "Questões
Equestres", do Gen L'Hotte, este último o cavaleiro que conseguiu reunir as lições dos "eternos inimigos" Baucher e Conde
D'Aure.
Boa leitura !!!
T.B.N.
NOTA EXPLICATIVA DO AUTOR:
Este trabalho foi calcado em notas de aula da ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO, a única escola de equitação existente no Brasil, e que, desde 1946, vem acumulando um acervo de processos metodológicos, trabalhos práticos, programas de instrução, planos de unidades didáticas, ligados às mais difundidas disciplinas eqüestres, como o adestramento, o concurso completo de equitação, o pólo e o salto de obstáculos, tanto na formação do instrutor como do monitor de equitação.
É oportuno, quando se pensa em regulamentar a profissão de "Instrutor de Equitação", que não se deixe de aproveitar, como é de triste praxe em nosso país, toda a experiência acumulada em mais de meio século de contínuo labor em tentar substituir o "achismo" e o empirismo pelas bases científicas da equitação, como também acontece nos centros mais adiantados culturalmente.
Curitiba, PR, novembro de 1998.
OBJETIVOS
A maioria dos livros sobre equitação, de um modo geral, não é escrita em uma linguagem que possibilite um fácil entendimento ao jovem ginete, que, na empolgação de um resultado positivo, recorra aos livros para se aperfeiçoar.
Este trabalho tem como objetivo fundamental explicitar, de maneira prática, alguns procedimentos que sirvam para auxiliar tais ginetes.
1 - AJUDAS
São os meios de que o ginete dispõe para impor sua vontade ao cavalo. Basicamente, existem 03 (três) ajudas naturais que podem ser reforçadas pelas ajudas artificiais.
a - PERNAS: servem para impulsionar o cavalo. São o acelerador do animal; sua ação pode ser reforçada pelo emprego simultâneo da espora, chicote e/ou estalos de língua. Não existe equitação sem impulsão (vontade de mover-se para a frente). Logo, um cavalo que não atenda às indicações das pernas, será eternamente uma fonte inesgotável de problemas.
b - MÃOS: servem para direcionar a impulsão gerada pelas pernas. A ação das mãos suaves, elásticas e discretas distingue um bom ginete de um ginete medíocre.
c - PESO DO CORPO: em outros esportes tem importância capital na obtenção de um melhor rendimento (motociclismo, ciclismo, atletismo, iatismo, surfe, turfe, etc...). Na equitação, embora tenha idêntica importância, seu emprego é relegado a plano secundário, e muitas vezes assistimos ginetes experientes cometerem erros elementares com relação ao posicionamento do peso de seu corpo sobre o cavalo. Com o movimento do corpo, podemos facilitar a tomada pelo animal de determinados movimentos, mediante a sobrecarga ou alívio de nosso peso sobre a massa do cavalo.
d - AJUDAS ARTIFICIAIS: enredeamentos especiais: rédea fixa, rédea Chambon, rédea Thiedmann, rédea alemã e a rédea Colbert, por exemplo. Servem, quando bem utilizadas, para abreviar a duração de um trabalho específico para a obtenção de um determinado objetivo.
2 - EFEITOS DE RÉDEAS:
O quadro abaixo resume as principais características dos 5 (cinco) efeitos de rédeas existentes:
EFEITO |
NOME |
ESPÁDUAS |
ANCAS |
PESO |
I |
RÉDEA DE ABERTURA |
MOVIMENTO CURTO |
MOVIMENTO LONGO |
SOBRE AS ESPÁDUAS |
II |
RÉDEA DIRETA |
MOVIMENTO CURTO |
MOVIMENTO LONGO |
SOBRE AS ESPÁDUAS |
III RÉDEA DO POLO |
CONTRÁRIA OU DE APOIO |
MOVIMENTO LONGO |
MOVIMENTO CURTO |
SOBRE AS ANCAS |
IV RÉDEA DO SALTO |
CONTRÁRIA À FRENTE DO GARROTE |
MOVIMENTO LONGO |
MOVIMENTO CURTO |
SOBRE AS ANCAS |
V RÉDEA DO FLEXIONAMENTO LATERAL |
CONTRÁRIA ATRÁS DO GARROTE |
MOVIMENTO LONGO |
MOVIMENTO CURTO |
SOBRE AS ANCAS |
É fácil perceber que as rédeas de abertura e direta, em virtude de colocarem a maior parte do peso do cavalo sobre as espáduas (o cavalo descreve um arco de círculo com os posteriores maior que o arco descrito pelos anteriores) devem ser evitadas na condução de um cavalo de salto. Verificamos, então, que, por colocar a maior parte do peso do cavalo sobre as ancas, aliviando as espáduas, a rédea contrária à frente do garrote é a rédea do salto, por excelência.
3 - ARTICULAÇÃO CABEÇA/PESCOÇO DO CAVALO (RAMENER):
Um cavalo com a cabeça colocada é mais agradável e muito mais fácil de ser conduzido nas provas de salto, já que nas provas de adestramento não se admite a hipótese de um cavalo não estar com sua cabeça colocada (no ramener).
Quanto mais alta estiver a cabeça do cavalo (invertido), mais difícil será sua condução. Os ginetes mais experientes, pelo simples exame visual do cavalo na cocheira, sabem se o cavalo tem a cabeça colocada ou é invertido. Um cavalo colocado tem o bordo superior do pescoço nitidamente musculado, ao passo que um cavalo invertido tem o bordo inferior do pescoço musculado, formando, às vezes, um verdadeiro caroço no terço médio do mesmo.
Para que nosso cavalo tenha a cabeça colocada (no ramener), a ginástica de extensão de pescoço, bem como sua flexão (à direita ou esquerda), serão pontos de passagem obrigatória de nosso trabalho. A ginástica de extensão do pescoço:
- prepara para o ramener;
- torna elástica a extremidade anterior do cavalo (capacidade de alongar e recolher o pescoço, segundo a vontade do ginete);
- ginastica, muscula e fortalece o dorso rim;
- aumenta o engajamento dos posteriores;
- eleva a base do pescoço;
- dá maior liberdade de espáduas;
- dá maior amplitude e cadência às andaduras.
O alongamento do pescoço faz trabalhar, ao mesmo tempo, os músculos abaixadores do pescoço (bordo superior). O flexionamento (encurvação) do pescoço obriga ao alongamento de um dos abaixadores (sempre o lado externo em relação à mão em que se trabalha).
Pediremos ao nosso cavalo, inicialmente, a extensão do pescoço em estação (cavalo parado), por meio de tensões com a rédea direta, de baixo para cima. Quando o cavalo cede o maxilar a alonga o pescoço na situação acima, partimos para a solicitação em movimento.
Para isso, colocamos nosso cavalo ao passo, pista à mão direita:
- por uma ação da rédea direta direita (tensionada na direção do ombro esquerdo do ginete) , colocamos seu focinho voltado para dentro do círculo;
- a rédea deve ser tensionada até o cavalo ceder o maxilar (mascar o bridão) e estender o pescoço;
- a mão deve permitir que o pescoço se alongue, e, após isso, pede uma nova cessão do maxilar;
- a extensão do pescoço se faz por descontrações sucessivas do maxilar do cavalo.
A combinação deste trabalho com o flexionamento longitudinal (alargar e encurtar a andadura) colocará nosso cavalo no ramener, com a base do pescoço elevada e engajado (atitude sustentada). Ao final desta etapa, quando pressionado pelas pernas, o cavalo interrogará a mão de seu ginete:
- se os dedos se abrem, ele alonga o pescoço;
- se os dedos ficam cerrados, mantém sua postura com a cabeça colocada.
(O abrir/cerrar dos dedos nos dois casos acima pode ser substituído pela ação elástica dos cotovelos)
No decorrer do adestramento do cavalo, deveremos voltar à ginástica de extensão do pescoço periodicamente. Um cavalo que tenha o bordo superior do pescoço musculado, dificilmente ficará invertido. Da mesma forma, terá enorme dificuldade em entrar no ramener um cavalo que tenha o bordo inferior do pescoço musculado (despapado).
Não esqueça que o passo é a andadura de ensino (o cavalo não apresenta reações que prejudiquem o assento do ginete).
O trote é a andadura de trabalho, por ser simétrica (cada membro realiza igual esforço) e fixada (não há movimento de báscula).
O galope é a andadura de aperfeiçoamento, por ser assimétrica e muito basculada (movimentos de abaixamento e elevação do pescoço no plano vertical).
4 - FLEXIONAMENTO LONGITUDINAL:
O flexionamento longitudinal é de importância primordial, tanto no adestramento clássico (transição de andaduras), como no salto de obstáculos. É este tipo de flexionamento que vai permitir ao cavalo vencer combinações de distâncias que exigirão um lance de galope maior ou um lance de galope menor; em ambos os casos, principalmente nos encurtamentos, a transição tem que ser suave, sem que o cavalo eleve a cabeça, se atravesse, perca a impulsão, ou que o ginete tenha que dar socos e tirões na boca do cavalo. Para saltar um duplo de paralelas, com 8m de vão, o lance obrigatoriamente deve ser maior do que o lance utilizado para vencer o mesmo duplo salto com 7,50m ou 7m de vão. Esta capacidade de ampliar ou diminuir o lance, na mão do ginete, só é conseguida mediante o flexionamento longitudinal. Tal tipo de trabalho deve ser enfatizado, inicialmente, ao trote, e, posteriormente, aperfeiçoado ao galope, até a exaustão. É importante frisar que este trabalho deve ser repetido muitas vezes, sempre em distâncias curtas (30m, no máximo),
como normalmente ocorre em um percurso de salto. Apresentamos, abaixo, algumas indicações de como realizar tal flexionamento:
Trote médio / trote alongado / trote médio
Trote alongado / trote reunido / trote alongado / trote reunido
Trote alongado / trote reunido / alto / trote reunido / trote alongado
Trote alongado / trote reunido / alto / recuar / trote reunido / trote alongado
Galope médio / galope alongado / galope reunido / galope alongado
4 lances galope médio / 3 lances galope reunido / 3 lances galope alongado
Existem ainda outros processos práticos, como por exemplo:

No trecho A, execute o menor número possível de lances de galope alongado.
No trecho B, execute o maior número possível de lances de galope reunido.
No trecho C, execute o menor número de lances de galope alongado.
No trecho D, execute o maior número possível de lances de galope reunido.

Em um mesmo trecho, execute o menor número possível de lances de galope alongado, e o maior número possível de lances de galope reunido.
Acostume seu cavalo a ampliar o lance imediatamente após uma volta de 180°.
Em todos estes exercícios, o cavalo deve ampliar ou diminuir seus lances, na mão, engajado, impulsionado e atento às indicações da perna e da mão. É a hora de empregar a ajuda "peso do corpo", tanto para ampliar como para diminuir o lance do cavalo.
5 - FLEXIONAMENTO LATERAL:
O flexionamento lateral é aquele algo a mais que vai permitir ao ginete obter o máximo rendimento de seu cavalo em um percurso de saltos; é um complemento muito eficiente do flexionamento longitudinal. É o flexionamento lateral que vai permitir combater as resistências localizadas que o cavalo apresenta. É através da espádua para dentro, do apoiar, do travers e do renvers, todos ao trote, e do apoiar ao galope que desenvolveremos a leveza ou a força de um posterior, bem como uma maior facilidade na condução de nossa montada.
As sessões de flexionamento lateral, obrigatoriamente, devem conter períodos em que o cavalo deve ser colocado para frente, energicamente, a fim de evitar que os movimentos laterais do animal ganhem muito para o lado, e pouco para frente. A impulsão, a vontade de se mover para a frente, é o farol que deve nortear, sempre, a prática da equitação.
6 - EXIGÊNCIAS MÍNIMAS QUE UM CAVALO DEVE SATISFAZER PARA REALIZAR UM PERCURSO DE SALTO:
- obedecer, com facilidade, às indicações da rédea contrária;
- aumentar e diminuir a amplitude de seus lances, sem opor resistências;
- fazer as curvas equilibrado, no galope justo ou galope falso, jamais no galope desunido.
7 - O SALTO:
Cada cavalo apresenta características próprias que impões trabalhos diferenciados para cada tipo de animal.
Assim, o salto ao trote só é aconselhado para cavalos árdegos, que tenham excesso de impulsão, e que precisem aprimorar sua trajetória de salto. Um cavalo com pouca impulsão, que seja cuidadoso no salto (limpo), ou que não tenha adquirido a batida para o salto, deve ser proibido de saltar ao trote.
O salto ao galope proporciona ao cavalo uma das mais importantes ferramentas para seu sucesso como saltador: a batida para o salto.
Um cavalo pode ter usa batida natural curta (muito perto do obstáculo), justa (distância ideal do obstáculo) ou longa (longe do obstáculo). É evidente que a batida justa deve contar com nossa preferência; no entanto, em um percurso de salto, é muito comum que executemos saltos com batidas curtas, justas e longas. Tal fato acarreta que devemos obrigar nosso cavalo a saltar nestas 3 situações, inicialmente sobre obstáculos isolados, baixos e largos (1,00m x 1,50m), em uma segunda fase sobre linhas com 18m e 21m, e, finalmente, sobre duplos saltos e sobre linhas com 15m de vão. É este treinamento que vai nos tranqüilizar, durante o percurso, sobre a abordagem dos obstáculos a serem saltados. Um cavalo que não consegue executar sua batida para o salto nestas 3 situações, dificultará, tremendamente, sua atuação como saltador.
Suponhamos que nosso cavalo atenda com presteza e sem reação nossas solicitações de ampliar e diminuir seus lances, consegue, com facilidade, bater justo, curto ou longo, e é um animal que alia o respeito pelo obstáculo a uma grande potência muscular. Enfim, é o cavalo com que todos nós sonhamos! Todas estas qualidades, no entanto, poderão resultar em nada se o ginete não obedecer as leis científicas da equitação, no que tange ao movimento e ao equilíbrio. O centro de gravidade do ginete deve, obrigatoriamente, estar ajustado ao centro de gravidade do cavalo, como se ambos formassem um corpo único. O ginete que assim procede, facilita, enormemente, o salto de seu cavalo. O ginete que não consegue estar ligado ao movimento do cavalo estará, sempre, atrapalhando o salto de sua montada, seja colocando seu peso sobre as espáduas, seja sentando na sela quando o cavalo tenta recolher seus posteriores durante o salto.
Para que o cavalo execute um salto com sucesso, é necessário:
- uma boa curva (não pode ultrapassar a linha do meio do obstáculo);
- ginete ligado ao movimento do cavalo;
- lance compatível com a altura e largura do obstáculo;
- liberdade para o pescoço do cavalo, pelo menos durante os últimos 2 lances que precedem a batida do cavalo.
O pescoço do cavalo, também chamado de balanceiro cervical, desempenha para o cavalo um papel semelhante aos membros superiores do homem. Experimente amarrar os braços, antebraços e mãos do campeão mundial dos 100m rasos, junto ao seu corpo, e veja qual será o resultado! O cavalo executa com o pescoço movimentos de abaixamento e elevação durante sua batida e o salto propriamente dito. Atrapalhar tais movimentos com ações intempestivas das rédeas coloca o cavalo em situação muito semelhante ao nosso campeão dos 100m.
Existe um tipo privilegiado de ginete que consegue "achar o lance" para o obstáculo a uma distância considerável (a mais de 4 lances). Um ginete com este dote natural levará imensa vantagem sobre outro ginete que tem de interferir no lance do cavalo para conseguir que sua montada execute sua batida para o obstáculo com sucesso. Tais ginetes conseguem saltar com qualquer tipo de cavalo, independentemente dos animais serem bem adestrados, regularmente adestrados ou mal adestrados, dando a impressão de que o adestramento do cavalo pouco influi para o salto. Podemos dividir tais ginetes em duas categorias:
- os que são apenas pilotos, e não adestram suas montadas;
- os que são pilotos e adestram seus cavalos.
Procure observar: os que são apenas pilotos caracterizam-se por uma alta rotatividade de cavalos, ocasionada, em grande parte, pelo acuamento de cavalos, que foram levados a saltar sem as mínimas condições de adestramento e/ou de preparo físico. Os que, além de pilotos, adestram suas montadas, são reconhecidos nacional ou internacionalmente por formarem conjuntos duradouros com seus cavalos, e por estarem brindando-nos, sempre, com atuações de grande talento.
8 - TRABALHOS ESPECÍFICOS DE SALTO:
O Cap Oscar SOTERO da Silva, um dos maiores cavaleiros de salto do nosso Exército, costumava dizer, em tom de blague:
"Não existem concursos de salto ao trote, salto à guia, salto em liberdade, salto nos cavaletes ou salto nos 'pajaritos'".
Ele queria dizer com isto que todos estes tipos de trabalho são exercícios complementares ao salto montado natural, o que não se utiliza de artifícios, e que, em última análise, deve ser a base insubstituível do trabalho de salto propriamente dito.
Elencamos, a seguir, alguns tipos destes trabalhos complementares ou corretivos:
- salto nos cavaletes (trote e galope);
- salto em liberdade;
- salto à guia;
- salto no "pajarito";
- salto em banqueta barrada;
- trabalho de domínio ao galope;
- trabalho de ajustagem de trajetória;
- trabalho de barragem no obstáculo.
9 - SALTO NOS CAVALETES AO TROTE:

Distâncias: entre os cavaletes, 1,30m a 1,50m (Varia com a amplitude de trote do cavalo), e 4,50m do último cavalete ao obstáculo (padrão), podendo, também, variar, de acordo com as características de cada cavalo.
Abordar os cavaletes no trote sentado, procurando colocar o busto sobre o centro de gravidade do cavalo (pesando o mínimo na sela, posição avançada ou suspensão flexível).
Os obstáculos utilizados devem impor respeito ao cavalo, sugerimos pilhas de pneus deitados como o tipo ideal, pois não machucam o animal em caso de batida.
Vantagens:
- acalma o cavalo;
- obriga-o a levantar as espáduas;
- obriga-o a arrendondar o salto e bascular.
Desvantagens:
- freia a impulsão;
- não ensina a calcular a batida para o salto.
Indicado para:
- cavalos que disparam para a barreira;
- esmagam as espáduas no salto;
- saltam com o rim cavado;
- não empregam o pescoço;
- não defendem os posteriores;
- saltam rasante.
Em nossos anexos, apresentamos algumas variações do salto ao trote.
10 - SALTO NO CAVALETE AO GALOPE:

A vara de referência (0,30m / 0,40m) serve apenas para acertar a batida para o obstáculo; deve ser saltada sem preocupação de acertar o lance. O ideal é colocar tonéis deitados como referência.
A distância básica é de 6m, admitindo, porém, variações. Se o cavalo ganha muito, diminuímos para 5,50m ou 5,00m. Se ganha pouco, aumentamos para 6,50m. O cavalo deve se receber do salto sobre a vara de referência, dar 1 lance de galope e efetuar a batida para saltar o obstáculo (oxer ou oxer de muro e vara).
Vantagens:
- obriga o cavalo a calcular a batida;
- permite combater a impulsão deficiente.
Desvantagens:
- realiza uma trajetória mais tensa, em função da velocidade;
- cuida menos a falta.
Em nossos anexos, apresentamos a combinação Winkler, que associa o salto ao trote com o salto ao galope, além de diferentes opções do salto ao galope.
11. SALTO EM LIBERDADE:
Indicado, especialmente, para cavalos que tenham dificuldade para ampliar ou encurtar o lance dentro de duplos ou triplos.
Para animais que não ganham dentro do vão:
- iniciar com estacionata / estacionata a 8,00m (obrigar o cavalo a fazer a curva impulsionado);
- passar para oxer / estacionata a 8,00m;
- finalizar com oxer / oxer a 8,00m.
Para animais que ganham muito dentro do vão:
- iniciar com estacionata / oxer a 7,50m;
- passar para estacionata / oxer a 7,10m;
- finalizar com oxer / oxer a 7,00m.
O salto em liberdade serve ainda para:
- corrigir a trajetória;
- barrar o cavalo;
- corrigir a batida para o salto;
- utilizar o "pajarito".
12 - SALTO À GUIA:
Indicado para a correção da batida para o salto. Utilizamos uma vara extra.
Se o cavalo bate curto, colocamos o aparelho corretor à 0,50m à frente do obstáculo, na mesma altura da vara de entrada;
Se o cavalo bate muito longe, colocamos o aparelho cerca de 0,50m atrás e mais elevado do que a última vara do obstáculo.
13 - SALTO NO "PAJARITO" (cauda de andorinha):
O salto no "pajarito" é largamente utilizado pela escola argentina de salto. Consiste em colocar 2 varas colocadas obliquamente em relação ao obstáculo, lembrando as asas de um pássaro, daí a origem do nome.
A tendência do animal, quando submetido ao "pajarito", é ajustar sua batida para mais longe, a fim de evitar tocar nas varas oblíquas. O cavalo fica mais cuidadoso em relação ao obstáculo, e, normalmente, emprega-se mais no salto.
Não deve ser utilizado para o cavalo que tenha respeito acentuado pelos obstáculos (muito limpo), uma vez que, dificilmente, o animal deixa tocar nas asas do "pajarito". Em nossos anexos, apresentamos diversas variações do emprego do "pajarito".
14 - SALTO EM BANQUETAS BARRADAS:
Trabalho insubstituível para cavalos que tenham o gesto das espáduas deficiente.
Pode ser executado montado ou à guia (trote ou galope); obriga o cavalo a saltar alto (1,40m ou mais), sem sacrificar suas articulações em decorrência da recepção, que é muito atenuada pela altura da banqueta (FIG 03).
É um trabalho muito eficiente também para animais que tenham dificuldade em empregar o pescoço durante o salto (FIG 04).

15 - TRABALHO DE DOMÍNIO AO GALOPE:
Indicado, especialmente, para cavalos que disparem ou arranquem para a barreira. O animal deve ser colocado ao galope em
círculo, à frente da barreira, de tal modo que a tangente do círculo coincida com a linha do meio do obstáculo. Dar o número
de voltas necessárias, até que o cavalo se acalme, e não arranque mais para a barreira. Só abordar a barreira com o cavalo
calmo. É um trabalho que exige calma e paciência do ginete, uma vez que é realizado montado.
Alternar mão direita e esquerda. Se o cavalo disparar após o salto, devemos retomá-lo, e colocá-lo em círculo, até que
reequilibre-se e acalme.

16 - TRABALHO DE AJUSTAGEM DA TRAJETÓRIA:
Mesmo um cavalo que tenha sua batida para o obstáculo justa, pode apresentar problemas de trajetória de salto. O ideal é que o
cavalo coloque o ponto mais alto de sua trajetória sobre a zona mais alta do obstáculo. Para corrigir uma deficiência neste
sentido, utilizamos o salto enviesado sobre oxers ou obstáculos verticais. Em tal trabalho, podemos modificar a distância de
batida de nosso cavalo. Quando formos saltar na mão direita, devemos direcioná-lo para a metade direita do obstáculo. Desta
maneira, se o cavalo vai bater curto, abrimos um pouco sua linha de abordagem para a esquerda, para conseguir bater justo, ou
um pouco mais longo, ainda.

17 - TRABALHO DE BARRAGEM:
É fundamental que o ginete saiba diferenciar se a falta cometida por seu cavalo é originada por falta de empenho ou por
deficiência física. Um cavalo que não emprega o pescoço no salto, normalmente faz falta com os posteriores. A causa é o
movimento de báscula deficiente ou insuficiente, o efeito é a falta feita com os posteriores. Barrar um cavalo nesta situação
equivaleria a combater os efeitos, e não as causas, que são a origem do problema. No caso em tela, seria muito mais produtivo
insistir no salto de obstáculos baixos e largos, e, principalmente, no salto de banquetas barradas na saída (FIG 04), do que
barrar (pinchar) o cavalo.
Da mesma forma, não surte efeito nenhum barrar a 1,30m ou 1,40m um cavalo cujo limite máximo de altura é 1,20m.
A barragem indiscriminada de cavalos é responsável direta por um sem número de animais acuados e/ou estragados para o
salto.
Se for necessário barrar seu cavalo, opte por um processo em que não haja a participação de auxiliares na barragem. O cavalo,
apesar de ser cavalo, não é burro, e associa facilmente tudo aquilo que lhe causa sofrimento ou dor.
Assim como existem cavalos que não se deixam ferrar na ferradoria, ou não se deixam tratar nas dependências do serviço de
veterinária, existem também cavalos que associam a presença de alguma pessoa próxima do obstáculo como um potencial barrador,
com todos os inconvenientes que tal situação acarreta.
18 - PALAVRAS FINAIS:
A observação atenta assume um valor muito grande na equitação. Um cavalo que tenha seus lances curtos e repetidos tem enorme
facilidade para ajustar sempre sua batida curta e em boa velocidade. Em contrapartida, terá grandes dificuldades para vencer
obstáculos mais largos, duplos, triplos elinhas, principalmente as de 15m com saída larga. São animais limitados, que, salvo
as exceções de praxe, não conseguirão saltar percursos mais exigentes (1,30m x 1,80m).
Entre um cavalo que tenha dificuldade em caber dentro dos duplos, triplos e linhas, por ter um lance muito amplo, e um outro
que tenha dificuldade em vencer as distâncias devido à insuficiência de lance, ambos com a mesma aptidão de saltador, escolha,
sempre, o que peca por excesso.
O sucesso do salto é a conseqüência natural de uma série de fatores intimamente ligados entre si, e onde a inobservância de
qualquer deles pode causar um insucesso:
- batida para o salto correta;
- posição do ginete (peso do corpo);
- lance de galope compatível com as dimensões do obstáculo;
- liberdade de pescoço para o cavalo executar os tempos do salto.
É muito comum assistirmos, na Europa, animais com 15 ou mais anos de idade participarem, com sucesso, de provas fortes, em um
calendário sabidamente desgastante. Tal fato deveria servir de alerta para todos aqueles que tem a felicidade de encontrar um
animal de exceção, e, movidos pela vontade de competir, de aparecer no cenário nacional, esquecem de aplicar o princípio da
progressividade (ir do mais fácil para o mais difícil, do mais simples para o mais complexo) no trabalho de um cavalo. Apele
para sua memória e recorde quantos cavalos você conheceu que surgiram como animais de exceção aos 7 anos, e simplesmente
desapareceram das pistas, ou ficaram relegados à situação de animais comuns logo em seguida.
Recorde sempre que o cavalo não sabe falar, mas não é por isso que você vai deixar de observá-lo, tanto à pé, como,
principalmente, montado, com atenção para interpretar aquilo que o animal está sentindo.
Tenho um amigo que saiu de Resende, numa manhã de 3ª. Feira, para saltar uma prova de cavalos novos (1,10m) na Vila Militar do
Rio de Janeiro. Seu cavalo era excelente, e já fazia percursos muito exigentes de 1,20m. Ao indagar-lhe, na 5ª. Feira, o
resultado da prova, ele me respondeu, muito sem graça, que seu cavalo havia cometido 5 faltas (20 pontos). "Não acredito",
respondi, "que trabalho você fez na 3ª feira à tarde" ? Olha, capitão, como estava muito quente, fiz o cavalo dar umas 5 ou 6
passadas no açude, só isso! Só então pude compreender a causa da má atuação do cavalo. Fazer um cavalo, que nunca entrou na
água, nadar 200m na véspera de uma prova é a mesma coisa que aplicar uma sessão de musculação violenta numa pessoa que não
faz educação física há mais de um ano. Daí, o grande ensinamento: nunca troque sua rotina de trabalho nas vésperas de uma
competição. Tudo aquilo que você achar interessante, em termos de trabalho diferente, deve ser experimentado somente quando
houver um tempo útil para verificar a reação física do cavalo ao novo tipo de exercício.
ANEXOS






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