Entrevista com OSCAR SOTERO DA SILVA parte VII
Realizada em 23/03/2009
Por Luiz Carlos Saldanha Moreira
Prova de rodízio
Campeonato Brasileiro de 1968
Esquerda: Pódio - Cap. Sotero, Srta. Rita Bezerra de Melo, Sr. Tarcísio Lima e TC Fonseca
Direita: Campeão, Sotero, cavalo campeão, Madison, e Vice-Campeã, Rita
Fotos Revista Centauro de dezembro de 1968
"Em 1968, tinham matado muitos cavalos do Exército por causa da AIE
(Anemia Infecciosa Equina)
e eu fiquei sem cavalo. Fiquei a pé.
Então, Fonseca , o Gatilho, chegou para mim e disse:
- Autoridade, vou armar uma pista aí para a gente fazer uma eliminatória para ver quem vai representar a Escola no Campeonato
Brasileiro.
Ai, eu disse para ele que não tinha cavalo. Ele disse que também não tinha.
O Serratine estava na Es A O. O Gatilho foi lá e “salivou” o Comandante para não deixar o Serratine ir ao Campeonato.
Aí, o que acontece, ele foi montar o Dragão e eu sem cavalo.
O Fonseca disse:
- É amanhã.
Fui nas baias e peguei o Urânio, que tinha sido CCE do Georjelino, mas tinha tomado uma injeção contra raiva, ficou cego uns
tempos, depois ficou meio maluco.
Ai, eu peguei ele encilhei, mandei levar para a Nantes.
- Amaro, come no prego, pé, mão, cabeça, focinho, eu também, pode me pinchar, pincha, come tudo, come no prego. Acabou,
desencilha, não vou nem distender. Não podia distender o fdp, ele já vinha dando garupada. Para levar ele pra Campinas, ele
embarcou com um saco de estopa na cara, Rocha puxando, ele dando garupada e relinchando.
Aí, foi armada uma pista condenada na Escola.
Ele entra com Dragão faz 12 pontos. Eu entrei com o Urânio no grito, louco. Só apontava, tentava regular mas ele tinha uma boca
fdp – 4 pontos.
- Ta satisfeito agora, Comandante? Então agora o negócio é que vai só eu e o Sr vai de meu ordenança.Ele bateu no meu ombro e
riu praça, que eu ia ser compadre dele.
Aí, fomos embora, chegou lá em Campinas todo mundo treinava. Eu disse para o Rocha:
- Você dá comida e trabalha só na guia, eu não vou trabalhar. Só vou montar na hora quando me chamarem. Nem distender.
Não podia distender. Era louco, porra...
Era um oxer o nº 1. Quando chamaram: - Cap Sotero, à pista! – eu fui correndo, o Rocha com o cavalo com um saco de estopa na
cara, o Rocha me botou em cima, eu digo: - Tira o saco e abre a porteira e bota o touro aí nessa porra!
Entrei, pá,pá, pá... zero! Único zero, e cavalo de 45 mil daquele casado com a Helga Matheis
(Ojos Brujos - Eduardo Cruz)
, Giani Samaya, Calá, Raul Lara Campos, todos bateram. Foi minha sorte porque no dia seguinte teve a prova de potência e eu
pulei de 1º para 4º no geral. Puta merda!
No rodízio ficaram: Gatilho com Dragão, eu com Urânio, Rita com Madison e aquele médico de Juiz de Fora
(Tarcisio Lima Guedes)
com aquela égua, Erika.
Fiz a pista com Urânio. Antes de passar a bandeirola de chegada já comi ele na espora e no chicote, dando voltas na pista,
cavalo louco, foi difícil de sair.
Disse para o Rocha:
- Cada um que vier montar aqui o Urânio, afrouxa um furo na focinheira.
Monta a Rita: sobe o morro, desce o morro. Eu só na minha...
O Gatilho deu de peito num cabo de aço dum poste.
O mineiro nem montou.
Ninguém segurava o Urânio.
- Esse cavalo é louco!!
Louco sou eu!
Quando montei no 3º cavalo já era Campeão Brasileiro!
Gatilho queria me prender. Ficou com raiva de mim.
Até hoje, quando me vê:
- Velho, filho da puta!!!"
Amaro e a Nantes
A cancela de Nantes, é um obstáculo constituído de uma mureta com cerca de 3 metros de frente, e altura, menor que 1 metro,
podendo armar-se sobre ela um obstáculo vertical, ou qualquer combinação. Tem como paraflanco, de cada lado, uma parede de
alvenaria, de mais ou menos 0,80m de frente por 2 metros de altura. Um obstáculo que nossos equitadores que andaram saltando
naquela cidade do Leste da França, em meados do século passado trouxeram como novidade.
Existia uma na pista interna da Escola de Equitação, no Realengo, na lateral da garagem.
Ali Sotero aplicava à farta um dos seus cinco princípios da equitação.
Sgt Amaro manejava com maestria o instrumento de persuasão – uma espécie de taco de basebol cravejado com pregos salientes,
vulgarmente chamado pincho.
Funcionava assim: Sotero ao passar pela lateral da Nantes indicava a Amaro, Mão! ou Pé!.
Fazia a curva e partia. Para criar o reflexo condicionado (o processo era científico), justo na batida, Sotero dizia alto:
- Máááro!
Amaro oculto pelo paraflanco aplicava o remédio solicitado.
Um dia, na passagem:
- Mão!...
Na hora da batida:
- Máááro!...
Ao cuzar a linha da Nantes, o vulto que aparece leva eficiente corretivo. Era Sotero voando, num refugo não previsto.
No braço direto de Sotero cicatrizes de um corretivo nos anteriores...
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